“O homem é um animal social.” Quantas vezes já nos deparamos com essa frase? Certamente ao menos uma vez você já a ouviu. Então por que se relacionar parece ser uma missão impossível para algumas pessoas? E não falo somente sobre os relacionamentos românticos, mas também as relações de amizade e familiares? Ao longo da vida e da minha formação e atuação como psicóloga percebo que as pessoas no geral tendem a olhar muito para si e pouco para os outros. Veja bem, olhar para si não é um problema, pelo contrário. O problema é como se dá esse olhar. Na maioria das vezes o ‘olhar para si’ quer dizer perceber e priorizar somente a própria vontade. É um olhar fantasioso que resulta na conclusão de que se está sempre certo e o outro sempre errado; de que se é uma grande vítima do outro, que é um grande vilão; de que seus sentimentos, opiniões ideais é que são válidos e o outro nunca consegue entender nada.
Ao longo da vida e da minha formação e atuação como psicóloga percebo que as pessoas no geral tendem a olhar muito para si e pouco para os outros.
Todos nós temos esse tipo de olhar para si – vamos chamar de olhar para si ideal -, onde ocupamos o centro do mundo e esperamos que as pessoas com as quais nos relacionamos confirmem esse lugar. Esse olhar para si ideal é uma verdadeira bomba relógio para os relacionamentos. Imagine que duas pessoas que funcionam sempre dessa maneira tentem se relacionar. Como serão as brigas dessas pessoas? Nunca terão fim, serão monólogos e não diálogos. Cada um falando sobre seus próprios sentimentos, pensamentos, desejos, sem nem sequer parar para ouvir o que o outro tem a dizer. Existe alguma possibilidade dessa relação dar certo? Na maioria das vezes não.
Se todos nós tendemos a esse olhar, como resolver o problema das relações? É preciso mudar o olhar. Adotar um outro tipo de olhar para si que vamos chamar de realista. O que seria isso? Reconhecer meus aspectos positivos e negativos, minhas forças e fraquezas e expandir o meu olhar para o outro. O que essa pessoa com a qual quero me relacionar pensa, sente, deseja? Isso não significa colocar o outro em primeiro lugar, embora para manter uma relação às vezes seja necessário ceder o posto de importância. Significa conciliar os olhares, reconhecendo a relação como uma tela em branco, algo a ser construído e criado a quatro mãos.
E como adotar e cultivar esse olhar para si realista? O primeiro passo é reconhecer que não se vive sozinho. E, mais uma vez, não estou falando somente de relações amorosas, mas também de relacionamentos entre amigos e familiares. Reconhecer a importância do outro na sua vida é o primeiro passo para querer mudar o olhar e se tornar mais aberto aos relacionamentos. O segundo passo é se conhecer. Saber o que você quer e o que você tem a oferecer em uma relação. Se relacionar é, antes de mais nada, trocar. Trocar ideias, experiências e, claro, afeto. Ao invés de pensar só no que você quer receber de alguém, pense também no que você tem pra dar. Ao invés de passar a vida imaginando a pessoa perfeita para viver com você, pense em como você gostaria de ser para essa pessoa. A generosidade verdadeira, não aquele dar esperando ganhar, é a chave para relacionamentos mais saudáveis e duradouros. E, para que ela possa florescer, é necessário cultivar o olhar para si real, cuidar das próprias feridas e do próprio desenvolvimento.