Se alguém me perguntasse o que é mais importante no processo de psicoterapia, minha resposta, sem dúvida, seria “comprometimento”.
Ninguém me perguntou, mas, hoje, eu vim aqui falar com você sobre algo que faz parte do comprometimento e, consequentemente, é uma condição para a terapia, seja ela online ou presencial: o compromisso.
Você pode pensar que compromisso e comprometimento são a mesma coisa e, de fato, objetivamente, são: indicam uma mesma ação de se comprometer com alguma coisa. Porém, na psicologia as coisas são bem mais subjetivas que objetivas e, quando falamos em comprometimento, estamos abordando diversos aspectos psicológicos e comportamentais que indicam que o paciente está engajado na terapia.
Um desses aspectos é o compromisso de, principalmente, ser assíduo nas sessões e também de manter o pagamento em dia. Vou abordar esses dois aspectos separadamente para que você consiga ter uma visão mais ampla do que estou querendo expor aqui.
Assiduidade
A maioria de nós tem uma vida corrida, horários apertados, rotinas frenéticas e, muitas vezes, para conseguir dar conta de tudo, acabamos com nossos dias repletos de tarefas e atividades. A psicoterapia acaba sendo mais uma linha na lista de tarefas de nossas agendas e, ao encará-la como mais uma atividade da rotina que preciso cumprir para dar um “check” ao final da sessão, estou fazendo isso errado!
A terapia não deve ser levada dessa maneira, como uma aula de inglês, ou como o horário com a manicure. E, falando isso, de maneira nenhuma estou desvalorizando essas outras atividades. Acredito que devemos ter compromisso com absolutamente tudo que nos propomos a fazer na vida. Mas o compromisso com a terapia não é simplesmente um compromisso com o terapeuta, é um compromisso consigo mesmo.
Aprofundando um pouco mais nossa reflexão, pense nos motivos pelos quais você buscou ou quer buscar a terapia. São os mesmos motivos pelos quais você estuda outros idiomas ou cuida do seu visual?
Se você tem dificuldade de ser assíduo na sua terapia – e isso inclui não só ir em todas as sessões, mas chegar no horário também – talvez você precise rever suas prioridades, entender qual lugar a terapia ocupa na sua vida e qual o lugar que você quer que ela ocupe. E aqui terapia é sinônimo de olhar para si mesmo. Deu para entender? Não tenho a intenção, com esse artigo, de criticar ou julgar, mas sim de proporcionar reflexão. É claro que imprevistos acontecem e existem situações que estão fora do nosso alcance, mas, em muitos casos, os atrasos e faltas estão ligados a uma falta de compromisso do paciente.
E aí, eu te pergunto, como alcançar seus objetivos na terapia se o próprio objetivo de fazer terapia está sendo deixado de lado?
Nós todos lutamos pela nossa autopreservação, é um instinto natural do ser humano e, muitas vezes, acabamos boicotando a terapia por medo de encarar aspectos da nossa personalidade. Esse medo também pode e deve ser trabalhado na terapia. A falta de compromisso pode acontecer quase de maneira despercebida, dificilmente é algo que o paciente faz de propósito. Então, se você está na terapia e é daqueles que sempre chega atrasado ou frequentemente precisa remarcar a sessão, fale disso na própria terapia. Converse com seu terapeuta sobre isso e tentem, juntos, descobrir se há algo a mais por trás desse comportamento.
Pagamento
Antes mesmo de me formar e começar a atuar como Psicóloga Clínica, eu ouvia muitas pessoas falarem que terapia era algo para quem podia pagar, inacessível para a maioria da população. Curiosamente, a maior parte das pessoas que fala isso não sabe que existem serviços sociais de atendimento psicoterapêutico. A Psicologia Clínica ficou taxada como algo elitista, para poucos, mas hoje eu quero te convidar a fazer algumas reflexões sobre esse rótulo.
Um primeiro ponto: assim como qualquer outro serviço de saúde, existe sessão de terapia de todos os valores. Como já falei, até mesmo serviços sociais, onde o valor cobrado é simbólico. A maioria dos meus colegas de profissão e eu guardamos vagas nas nossas agendas para atendimentos sociais. Então, é preciso rever a fala “eu não posso pagar por uma terapia”, é preciso buscar um terapeuta pelo qual você possa pagar.
Com esse primeiro ponto esclarecido, quero abordar aqui a noção de caro e barato. Pense em quanto você gasta semanalmente com transporte, por exemplo. Se você tem um carro, é bem provável que você gaste com ele, por semana, mais do que o preço médio de uma sessão de terapia. Você costuma comer fora? Faça a conta de quanto você gasta por semana em restaurantes, é provável que mais do que o preço médio de uma sessão de terapia. Você costuma se dar presentes ao longo do mês? Vai ao salão de beleza frequentemente? Consome bebida alcoólica no fim de semana? Talvez todas essas atividades custem pra você, semanalmente, mais do que uma sessão de terapia ou um valor muito próximo disso. Estão acompanhando meu raciocínio? Falar que alguma coisa é cara ou barata vai sempre depender do seu ponto de vista e, mais importante, do valor que você dá para aquele serviço ou produto.
Você já parou pra pensar no valor que você atribui a sua terapia? Novamente, terapia aqui é sinônimo de olhar para si, de buscar respostas para as suas perguntas, de buscar soluções para os seus medos e conflitos, de superar seus desafios. Qual o valor que você dá para isso? Pense nisso e, depois, veja se para você é caro ou barato fazer terapia.
Se para você ainda é muito difícil se comprometer com a terapia, tudo bem. Como falei antes, você pode levar essa dificuldade para a sua psicóloga ou terapeuta e tentar entender o que está dificultando o processo. O mais importante é que você perceba que há uma dificuldade.
Outra coisa que é fundamental no processo terapêutico é a sinceridade, não só com a psicóloga, mas consigo mesmo. O compromisso com a terapia e com a psicóloga também tem a ver com se manter vigilante, se manter aberto para investigar o que se passa na própria mente. A sessão de terapia dura 45 minutos por semana, mas o processo terapêutico acontece na vida, no dia a dia. Se eu só frequento as sessões, e não levo o que foi discutido ali para o meu cotidiano, também preciso rever meu comprometimento.
Espero que eu tenha trazido reflexões válidas para você nesse artigo. Lembre-se que nós, psicólogos, não cobramos nada do paciente. O seu compromisso, na terapia, é com ninguém mais além de você mesmo!